Somos Todos Estranhos - Seth Godin

Título: We are all Weird
Autor: Seth Godin
Editora: Domino Project
Ano: 2011
Páginas: 97
ISBN/EAN: 9-781936-719228


Ainda sem versão em português (junho/12), nem mesmo em Portugal, We are all Weird ("Somos todos Estranhos" em tradução livre) é mais uma obra interessante de Seth Godin, um dos mais profícuos autores e ativo blogueiro de Marketing.

A Revolução Digital trouxe consigo diversas mudanças e oportunidades. Sem dúvida a mais impactante delas é o fato de permitir a mudança dos mercados: de Massa para "Cauda Longa". (Para entender melhor o conceito de Cauda Longa, clique aqui).

Não existe mais o conceito de "Normal x Anormal", "Massa x Nicho", "Nós x Eles". A Revolução Digital permitiu darmos voz novamente aos pequenos grupos, as "tribos", que estiveram negligenciadas, silenciadas ou tratadas como nichos durante esse último século, da  Produção em Massa. 

Aquilo que era considerado como nicho, como Estranho (weird), em oposição à massa - ou normal, ou mediano - agora passa a ser a regra, não a exceção.

Da mesma forma, a estratégia dos negócios e consequentemente o marketing e comunicação não podem mais apenas ater-se à "média", à massa. As minorias, os pequenos nichos, as pequenas tribos hoje, somadas são maiores que a maioria. O famoso "outros" em qualquer gráfico tradicional "de pizza" que descrevia tamanhos de mercado, que costumava ser a menor parcela, ganhou nos últimos anos tamanho e hoje em muitos mercados tornou-se uma maioria. Não uma maioria homogênea a ponto de ser considerada uma única categoria ou segmento, mas somadas essas minorias são em verdade uma maioria heterogênea.

Portanto, quando uma empresa hoje decide produzir ou prestar serviço para a "média", na verdade está se dedicando à minoria do mercado, a menor parte. Por outro lado ao dedicar-se a apenas um determinado nicho, seu mercado fica menor ainda. O ideal é poder atender e principalmente entender essa soma de pequenos mercados. 

Seth Godin explica-nos no livro, os quatro conceitos que melhor definem a divisão dos mercados e grupos em geral:

1. Massa - o que nos permitiu alcançarmos a Eficiência da Era Industrial. Consequentemente também o marketing de massa, a compatibilidade (compliance) com normas e regras, a não-diferenciação portanto. O atual nível de desenvolvimento e riqueza da humanidade só foi possível com a recente industrialização e esta, apenas viável pela padronização, pela "média". A linha de produção nos trouxe eficiência produtiva, mais produtos e mais baratos. Mas demandou também trabalhadores padronizados, alunos padronizados por consequência, e por fim cidadãos-padrão e consumidores-padrão. O mundo tendeu para uma grande Média.

2. Normal - as pessoas no meio, a média. E o mercado de massa sempre teve como objetivo a média do mercado, produtos e serviços medianos para pessoas medianas.  Evidentemente que o conceito de "normal" é circunstancial, local. O que é normal em determinado espaço geográfico não o é em outro. Mas toda região tem seus conceitos normais. A famosa curva de Gauss, gráfico em forma de "sino" ou curva normal, a regra de Pareto 80/20 (80% das vendas/receitas/margens vem de 20% dos itens/categorias/clientes). Porém, passada a onda da industrialização, com a digitalização e o acesso, voltamos a nos dar conta que o mercado como o mundo antigo, não é apenas uma grande média. Somos sim inúmeros pequenos grupos bem diferentes, que somados somos a maioria.

3. Estranho (weird) - exatamente o oposto de "normal" e "massa". Tudo aquilo e aqueles que não são compatíveis com a norma e a massa. E essa "anormalidade" pode ser natural (tipo físico, étnico, etc) ou por escolha (gosto musical , paladar, consciência política, orientação sexual, etc). Enfim, pessoas que são ou escolheram ser DIFERENTES da massa e da norma.

4. Rico - esse é um conceito interessante. Não se refere a ser rico monetariamente, mas sim em PODER ESCOLHER. Fazer um pouco mais que apenas sobreviver. Mesmo os mais pobres financeiramente tem alguma opção em escolher algumas coisas. O fato é que hoje o mundo tem mais pessoas "ricas" nesse sentido (a despeito da distribuição desigual de renda) que no passado. E se podem escolher, tem opção de não querer fazer parte da massa, da média, da norma.

Hoje acontece que o "sino está abrindo" cada vez mais. Já não são poucos grupos homogêneos que representam a maioria. Os grupos ficam cada vez menores em tamanho, porém mais numerosos em quantidade.
Ou seja, somos hoje mais Estranhos que nunca. Ou somos tão Estranhos quanto poderíamos ser ANTES da revolução industrial/sociedade do consumo de massa. De certa forma voltamos às origens. Os seres humanos tendem a ser gregários, buscar reunir-se em tribos com valores, hábitos, gostos e pensamentos similares. Durante a Era Industrial, muitas dessas expressões foram relegadas ao segundo plano, ou ao menos no que se refere a consumo foram deixadas de lado, em detrimento da oferta de massa.

Portanto cada ser humano hoje encontra-se no dilema de optar por:
. Alinhar-se com a massa: mediana, uniforme, normal, complacente e compatível;
. Exercer sua individualidade: específica, não-normal, estranha, não-compatível, única;

O fato é que o mundo caminha cada vez mais para a direção do "Estranho". Uns campos e mercados mais rápidamente que outros, mas sem dúvida, um caminho sem volta.

Mass is dead. Here comes the Weird (A massa acabou. Ai vem o Estranho) - afirma Godin.

Esse movimento do Estranho possui 4 forças/fatores:

1. Criação Amplificada - hoje qualquer obra de criação tem mais alcance que antes: música, livros, arte em geral. Por outro lado compete com muito mais obras pela atenção do público.

2. Opção pelo Diferente - uma vez com o poder de optar, tendemos a optar pelo diferente, a fugir da norma, regra, massa, média. É uma característica humana. Estava reprimida nesses últimos 150 anos, mas retoma a atividade como nunca agora. Tem vínculo com a 1a. Lei de Jarvis: "Dê poder às pessoas e elas o usarão. Não dê e você as perderá."

3. Eficiência de Marketing - a Cauda Longa não é apenas um conceito elegante, é a mais precisa descrição de quase todos os mercados atuais. O marketing precisa ser feito especificamente para cada pequeno segmento, cada tribo e o retorno será mais eficiente. O mercado de massa é para os profissionais de marketing que não tem informação suficiente para serem específicos (e eficientes portanto).

4. Conexão das Tribos - a internet permitiu que os "poucos" se encontrassem e pudessem finalmente interagir mais intensamente, reforçando sua unidade, sua unicidade e diferenciação. O senso de pertencer a tribos, funciona ao mesmo tempo como espelho e como amplificador. Negligenciar as tribos, por menores que sejam, é burrice. Você não precisa atender a todas, mas ignorar sua existência e não respeitá-las é suicídio.

Outra força em crescimento é a Mobilidade: "feito para mim, personalizado, aqui e agora". O mercado unitário, que portanto demanda o marketing do unitário e do agora.

O mais interessante é que, em questão de anos, depois gerações, isso que hoje consideramos Estranho, será absolutamente... Normal!

De fato, muito interessante. 
E você? Concorda, ou profere ser "Normal"?

Saiba mais sobre o autor em seu blog.

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